quarta-feira, 19 de setembro de 2007

ANÁLISE DO FILME A EXCÊNTRICA FAMÍLIA DE ANTONIA


O filme Antônia é uma obra prima do cinema, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 1996. O cenário onde se desenrola a trama é uma cidadezinha do interior da Holanda.
O título do filme sugere uma indagação, por que excêntrica família? Excêntrica porque a família de Antônia representa essa grande família que é a sociedade humana, com toda sua diversidade e complexidade. Com todos os seus problemas, angústias, sonhos, ilusões, diferenças de credo, raça, cor, opção política, religiosa, sexual, filosófica.
Nesse sentido, cada um dos personagens do filme representa uma postura no processo de enfrentamento da realidade e tentativa de elucidação, desvelamento e compreensão de um mundo em eterno Devir.
Iniciaremos, nossa reflexão destacando o personagem principal, Antônia, que representa a tolerância, o respeito à liberdade de expressão, à justiça, à coerência, à luta pelos direitos iguais e em especial, pela aceitação das diferenças entre as pessoas, sejam elas quais forem; religiosas, políticas, filosóficas, físicas, psicológicas ou ideológicas.
Outro dado importante é a ausência de referência a um Estado constituído, isto é, o aparelho burocrático social, uma vez que o filme é baseado no pensamento filosófico de Arthur Schopenhauer, filósofo alemão, que viveu no século passado. Isto se justifica porque para Schopenhauer: “ O Estado assume um papel meramente negativo, com a relação (à existência) e a atividade filosófica, já que o pensamento poderá ter de pagar tais incentivos com a perda da liberdade. O Estado existe para proteger seus súditos contra abusos mútuos e, embora acima dos indivíduos, está tão sujeito quanto eles ao jogo de interesses que os move. O Estado nunca pode ser a “manifestação da ordem moral do mundo.”(Cacciola;1991) Para Schopenhauer, o Estado é um mal necessário, a existência do indivíduo não se realiza nele “como a da abelha na colméia.” Por isso, há uma ausência de qualquer alusão ao Estado no referido filme.
Comecemos a análise dos personagem pela louca Madona e o protestante, estão perdidamente apaixonados um pelo outro, isto é, necessitam um do outro. Mas estão impossibilitados de unirem-se maritalmente em função das diferenças religiosas, isto é, separados por seus dogmas e crenças. Pela necessidade que tem de sufocar esse desejo, Madona enlouquece: “ ...ela uiva nas noites de lua cheia... deixa o protestante louco... ele preferiria estar em cima a estar embaixo.” É a religião privando o ser humano de desenvolver suas potencialidades e seus desejos de realização afetiva. Sobre a impossibilidade dessa realização, Schopenhauer afirma que: “Mas, maior ainda é o número daqueles a quem essa paixão conduz ao manicômio. Enfim verificam-se todos os anos diversos casos de duplo suicídio, quando dois amantes desesperados se tornam vítimas das circunstâncias exteriores que os separam...” No caso a opção religiosa.
Danielle, a filha de Antônia, é artista sonhadora, costuma ver “alucinações”, isto é, reproduz a realidade à sua imagem e semelhança. Resolve ter um filho mas abdica do matrimônio e dos homens. Sua escolha sexual recai sobre as mulheres.
A família do fazendeiro representa a versão machista da sociedade: “onde a voz dos homens se sobrepõe ao silêncio das mulheres.” Nesse sentido, as mulheres são tratadas como objeto sexual e força de trabalho (Dedee é constantemente estuprada pelo irmão e é oferecida em casamento no bar de Olga, pelo pai, como se representasse uma mercadoria de boa qualidade).
Dedo Torto é o filósofo trágico, pessimista, representa principalmente os voluntaristas alemães, em especial Nietzsche e principalmente Schopenhauer. Nesse sentido, justifica o seu suicídio utilizando passagens do pensamento Schopenhaueriano, constantes na obra Dores do Mundo :


“É absurdo crer que a dor constante que nos aflige... seja puro acaso. Pelo contrário. A desgraça é a regra, não a exceção. A quem culpar por nossa existência? À explosão solar, que nos deu a vida? Eu me acuso... já que não creio em Deus ou reencarnação. Se acreditasse, poderia me iludir de que a vida nos promete... uma sobremesa divina, depois da indigesta refeição. Nunca fui capaz de aceitar a simples concepção... de que tudo um dia vai melhorar. Nada irá melhorar. Melhor ou pior... só será diferente. Não quero mais pensar... acima de tudo, não quero pensar.”


Podemos afirmar que a fala de Dedo Torto é um resumo do pensamento de Schopenhauer constante na obra acima citada quando afirma que:

“Se a nossa existência não tem por fim imediato a dor, pode dizer-se que não tem razão alguma de ser no mundo. Porque é absurdo admitir que a dor sem fim, que nasce da miséria inerente à vida e enche o mundo, seja apenas um puro acidente, e não o próprio fim. Cada desgraça particular parece, é certo, uma exceção, mas a desgraça geral é a regra.”

Assim, para Schopenhauer a capacidade de sofrer aumenta na proporção da inteligência, e atinge portanto no homem o mais elevado grau.
Para Schopenhauer, só a dor é positiva. ele afirma que a maior parte dos sistemas metafísicos explicam o mal como uma coisa negativa; só ele, pelo contrário é positivo, visto que se faz sentir... O bem, só faz suprimir um desejo e termina um desgosto.
Boca Mole representa o segmento social dos excluídos em função de deficiência física, mental, social, econômica ou racial(Cora é o melhor exemplo: bêbada e pobre vendedora de estrume.)
O padre representa a omissão da Igreja diante de problemas graves como o Fascismo e Nazismo (ele se nega a dar a unção dos enfermos às vítimas do nazismo, com medo de represálias). Exemplo claro fica quando na homilia da missa dominical, faz uma pregação moralista e intransigente, ao condenar a mulher:

“Corrupção é o que nos infecta. É o que Pedro nos ensina. Aqueles que procuram a carne e a luxúria da impureza... são presunçosos e não temem falar mal de dignidades. O reino dos judeus caiu sobre Jesebel e sua filha amaldiçoada(referência a Antônia e Danielle). E a maior vergonha é serem mulheres. Deviam servir de exemplo de humildade e obediência... e ensinar a castidade a suas filhas. Se arrependerão...pois queimarão no fogo do inferno...no dia do julgamento!”.


O padre é flagrado por Antonia e Bass em ato de felação (cunilíngua) com uma fiel, contra sua própria vontade se submete seus desejos libidinosos.
E o padre muda o discurso na homilia dominical:

“E nosso Senhor disse... Quem não for pecador que atire a primeira pedra! E todos se foram, condenados por suas consciências. Temos de pensar em nossos pecados antes de julgarmos os outros. Devemos nos lembrar que a salvação veio através de uma mulher. Ninguém procura sua ajuda e proteção à toa. E não esqueçamos do que foi lido no banquete...’Ela fala com sabedoria..., e em sua língua está a lei da bondade. Ela cuida de sua morada... e não se alimenta do pão da preguiça.”

Antônia rejeita o pedido de casamento de Bass; negação do casamento enquanto Instituição Social. Ela prefere o amor livre como pressuposto para a felicidade.
Antônia dizia: “Todos têm um par... Dedee e Boca Mole se apaixonaram.” Sobre essa afirmação Schopenhauer diz que cada João encontra a sua Joana., que tem como finalidade a perpetuação da espécie.
Apaixonados cada um por sua diferente crença... O protestante e a louca Madona... Continuavam distantes um do outro. Sobre este aspecto Dedo Torto ao se reportar à religião afirma que ela provoca guerra e destruição, material e psicológica, uma vez que governa nosso intelecto.
O padre abandonou a Batina: “não podia aproveitar a vida com o prazer da Igreja pela morte.”.
Uns optam pelo casamento, Dedee e Boca Mole (o casamento como consagração do amor) Nesse sentido, confrontam-se duas possibilidades de união afetiva, o casamento como consagração da sexualidade, representado pelo casamento de Dedee e Boca Mole, ou o amor livre como possibilidade dessa realização, representado pela relação de Antonia e Bass, o padre e Letta.
No decorrer do filme, a uma ênfase à questão do tempo: “Os dias viraram semanas e as semanas, anos. Antônia plantou, Danielle pintou... Os campos ficaram verdes e depois marrons.” Antônia e Danielle levaram Therese, filha de Danielle para visitar Dedo Torto. No diálogo entre Dedo Torto e Therese são levantadas algumas questões sobre o tempo. Dedo Torto indaga: “Imagine uma outra escala de tempo, onde uma vida de 80 anos durasse 29 dias... ou 80 mil anos. Therese pergunta – e o tempo? Quem o inventou? Dedo Torto responde – nós mesmos” Therese então afirma: “ Talvez as formigas tenham um tempo – ou os grilos – e as abelhas – e as borboletas – e as árvores – as estrelas e a lua.” Therese cheira Dedo Torto e diz que ele está fedendo. Dedo Torto responde: “Isto, minha filha... é o cheiro do tempo que passou.”
Novamente o pensamento filosófico schopenhaueriano é ressaltado, uma vez que para ele, o tempo é a forma arquetípica da finitude. A realidade que nos cerca é obra do intelecto. Entretanto, Schopenhauer prefere designá-la como um produto originado a partir de um efetivar do sujeito. Efetivar significa a causalidade em atividade. A realidade seria mais apropriadamente chamada de efetividade. A própria matéria é efetividade, é pura causalidade. A concretude do mundo está em nosso cérebro. Nesse sentido, a filosofia schopenhaueriana é um idealismo fisiológico.
A realidade é composta de aparências, porque nada nela permanece por muito tempo. As coisas estão em incessante vir-a-ser. Em tal estado de ilusões, tudo nasce, dura e depois perece, obedecendo ao fluxo contínuo do tempo, que impede a fixidez. Assim, o tempo é a “forma arquetípica”, paradigmática de toda finitude, tornando tudo nele passageiro.
O caráter do tempo faz com que tudo nele seja caracterizado como não-essencial. O que existe no presente já não existe no passado, e tudo o que existiu no passado já não existe tal qual era. Quanto ao futuro, ainda não chegou. O tempo gruda nas coisas a sua nulidade. Tudo são aparências fugidias. Quando menos se espera, aquilo que supúnhamos duradouro desaparece. Nos Parerga Schopenhauer afirma que:

“O homem só vive no presente, que foge irresistivelmente para o passado, e afunda-se na morte: salvo as conseqüências que podem refletir-se no presente, e que são obra dos seus atos e da sua vontade, a sua vida de ontem acha-se completamente morta, extinta: deveria portanto ser-lhe indiferente à razão que esse passado fosse feito de gozos ou de tristezas. O presente foge-lhe, e transforma-se incessantemente no passado; o futuro é absolutamente incerto e sem duração.”

Letta representa a maternidade, a necessidade de perpetuação da espécie. Ela diz: “A gravidez é maravilhosa... e vale a pena... não pela copulação ou pelo filho... mas pela gravidez e pelo parto. É maravilhoso.” Sobre a perpetuação da espécie Schopenhauer pergunta: “Imagine-se por um instante que o ato da geração não era nem uma necessidade nem uma voluptuosidade, mas um caso de pura reflexão e de razão: a espécie humana subsistiria ainda? Não sentiriam todos bastante piedade pela geração futura, para lhe poupar o peso da existência, ou, pelo menos, não hesitariam em impor-lha a sangue-frio? Para uns, a maternidade é um mistério indelével, para outros um acontecimento corriqueiro e sem importância.
Outro detalhe importante do filme é que, apesar de todo o sofrimento, de todas as dores e vicissitudes é possível sorrir das coisas simples. Como por exemplo, a cena da colheita, onde todos sorriem, se abraçam, cantam, pulam se locupletam de felicidade.
Vale ressaltar que é contumaz a crítica à religião com todos os seus dogmas, rituais, sistema rígido de valores morais e eternos: “O Protestante e a Louca Madona(católica fervorosa), apaixonados cada um por sua diferente crença... continuavam distantes um do outro... O padre abandonou a batina: ‘não podia aproveitar a vida com o prazer da Igreja pela morte’.” Ainda sobre a questão da religião o diálogo entre Dedo Torto e Therese é lapidar: “ Therese – A irmã disse que Deus criou tudo...Mas ela não se questiona quem criou Deus...” Dedo Torto responde, afirmando que: “ – O mal de quem acredita em Deus, é que a fé comanda seu intelecto... Na Minha opinião, religiões sempre causam morte e destruição.” Schopenhauer, considera a religião dos judeus como a última entre as doutrinas religiosas dos povos civilizados, uma vez que o Deus judaico produz ao seu bel-prazer este mundo de miséria e de lamentações, e que é demasiado forte! Afirma ainda que mesmo que a demonstração de Leibnitz fosse verdadeira, embora se admitisse que entre os mundos possíveis este é sempre o melhor, essa demonstração não daria ainda nenhuma teodicéia. Porque o criador não só criou o mundo, mas também a própria possibilidade; portanto, devia ter tornado possível um mundo melhor.
Ainda sobre a questão do Tempo como pressuposto fundamental para o ser-aparecer-desaparecer dos seres a narradora diz: “As estações se repetiam, o tempo trouxe a vida de novo... e com completa satisfação produziu nada além de si mesmo”. Novamente o Tempo é ressaltado e se apresenta como uma espécie de imperador da realidade efetiva, pois é por ele que a realidade, ao herdar a sua nulidade intrínseca também será nula. E assim, as aparências multiplicando-se incomensuravelmente, de modo que os indivíduos ficam imersos na pluralidade de objetos rebeldes a uma apreensão definitiva pelo conhecer. O mundo nunca é o mesmo toda vez que se o considera: ele é incessante Devir.
Sara, bisneta de Antonia indagando sobre a existência afirma: “Não é triste que nada exista? Antonia responde – Por isso há tanto.” Sobre a existência do mundo Schopenhauer afirma que:

“Brama produz o mundo por uma espécie de pecado ou desvario, e permanece ele próprio no mundo para expiar esse pecado até estar redimido. - Muito bem! No Budismo, o mundo nasce em seguida a uma perturbação inexplicável, que se produz após um longo repouso nessa claridade do céu, nessa beatitude serena, chamada Nirvana, que será reconquistada pela penitência; é como que uma espécie de fatalidade que se deve compreender no fundo de um sentido moral, ainda que essa explicação tenha uma analogia e uma imagem exatamente correspondente na natureza pela formação inexplicável do mundo primitivo, vasta nebulosa donde surgirá um sol. Mas os erros morais tornam mesmo o mundo físico gradualmente pior e sempre pior, até ter tomado a sua triste forma atual.”(1986;24)

Ainda sobre o surgimento do mundo Maia (1993; 402) afirma que para Schopenhauer:

“(...) há ao fundo do real e perpassando o mundo na presença, junto à destinação de “non-sens” a este impressa, um ato originário de repressão em relação a “algo” tão impensável quanto a própria Vontade em geral, porque se trata ainda, afinal, dela mesma. Por um equívoco inexplicável, a Vontade teria efetuado o Ato Afirmador da Vida, levantando-se contra si mesma em luta eterna, já que, no abandono do estado anterior, é a penúria do desejo definido pela carência que nela se constela.”

É a figura da roda do tempo mundano, na personagem mítica de Íxion. Assim, para que haja mundo, para que ingressemos na existência, deve ter ocorrido algo catastrófico com um estado outro da Vontade em si, compreendido enquanto uma contração do Universo, descrito como anterior ao estado atual.
Madona morreu de amor. E o protestante foi logo depois; força do hábito, disseram os aldeões. Os dois foram enterrados no mesmo túmulo e na lápide foi colocado o epitáfio: “Não dividiram a mesma mesa, a mesma cama... Agora dividem o mesmo túmulo”.
Pitte retorna após a morte do pai para exigir o dinheiro da herança, e para vingar-se de Danielle, estupra Therese. Logo depois é assassinado pelo irmão mais novo. Os aldeões se sentiram aliviados.
Após o estupro Therese vai à casa de Dedo Torto para receber conforto. Dedo Torto falando sobre a humanidade afirma que: “O mundo é um inferno... habitado por espíritos atormentados e demônios” .Sobre esse tema Schopenhauer afirma que: “O mundo é o inferno, e os homens dividem-se em almas atormentadas e em diabos atormentadores”.
Ao se perguntar sobre onde iria Dante procurar o modelo e o assunto do seu inferno Schopenhauer afirma que é no nosso mundo real. Nesse sentido, o inferno do mundo excede o Inferno de Dante, no ponto em que cada um é o diabo do seu vizinho. Além disso, existe um arquidiabo (o Estado, um Tirano, um Ditador, um Rei, etc.) superior a todos os outros, é o conquistador que dispõe milhares de homens em frente uns aos outros e lhes brada: “Sofrer, morrer, é o vosso destino; portanto, fuzilem-se, canhoneiem-se mutuamente!” e assim todos procedemos.
Sobre a idéia de que o tempo cura tudo a narradora afirma: “O provérbio é errado. O tempo não cicatriza feridas. Ele apenas alivia a dor e embaça a memória.”
Finalizando, Antonia ao responder a pergunta de Sara sobre onde está Dedo Torto e onde estão todos afirma: “O corpo de Dedo Torto foi queimado... e suas cinzas espalhadas sobre a terra. Mas nada morre para sempre. Alguma coisa sempre fica... de onde outra nasce. Assim a vida começa sem saber de onde veio... ou porque existe”. E Sara insiste: – Mas por quê? Antonia responde: - porque a vida quer viver. E não existe um céu? Indaga Sara. Antonia responde mais uma vez – Esta é a única dança que dançamos. (não existe ser absoluto nem nada absoluto, existe um ser e um nada relativos).
Schopenhauer defende uma idéia de imortalidade diferente da visão judaico-cristã, ao afirmar na obra As Dores do Mundo que:

“Quando no outro outono se observa o pequeno mundo dos insetos, e se nota que um prepara um leito para dormir o pesado e longo sono do inverno, que outro prepara o casulo para passar o inverno no estado de crisálida e renascer num dia de primavera com toda a mocidade e em plena perfeição, e que enfim, esses insetos, na maior parte, pensando em repousar nos braços da morte, se contentam em colocar caute1osamente o ovo no sítio favorável, para renascerem um dia rejuvenescidos, num novo ser - que é isto senão a doutrina da imortalidade ensinada pela natureza?
Ela desejaria fazer-nos compreender que entre o sono e a morte não há uma diferença radical, que nem um nem outro põe a existência em perigo. O cuidado com que o inseto prepara a célula, o buraco, o ninho assim como o alimento para a larva que deve nascer na seguinte primavera, e feito isto, morre tranqüilo - assemelha-se perfeitamente ao cuidado com que o homem arruma, à noite, o fato e prepara o almoço para o dia seguinte indo depois dormir em sossego.
E este caso não se daria se o inseto que deve morrer no outono, considerado em si mesmo e na sua verdadeira essência, não fosse idêntico ao que se deve desenvolver na primavera, assim como o homem que se deita, é o mesmo que se levanta “.
E a referência ao filme reforça o pensamento filosófico de Schopenhauer sobre o tempo:

“O tempo conquistou o tempo. Apesar de não nascerem tantas crianças quanto na época de Letta... Havia o bastante para manter o mundo girando. Às vezes o tempo ficava lento como uma tartaruga cansada. Às vezes rompia pela vida como um abutre em busca da presa. O tempo não se preocupou com a vida ou a morte... declínio ou ascensão, amor, ódio ou ciúmes. Ignorou tudo que nos é importante... e faz com que esqueçamos dele...”
Portanto, o tempo é o nosso carrasco é o nosso algoz, é aquele que nos consome em todos os instantes de nossa existência, efêmera, fugaz, fugidia e caótica.
O tempo é o nosso destino e caminho. E a nossa existência é uma Roda de Ixíon ou a de um Sísifo rolando eternamente a pedra montanha acima e ela rolando para baixo todas as vezes que estamos a ponto de alcançar o cume. Em síntese é o nosso desejo de perfectibilidade e de dar conta de um sentido plausível para nossas existências.

Um comentário:

Anônimo disse...

gostaria de saber se me autoriza cit�-lo em um trabalho sobre o filme.